Hoje

Um dos meus maiores medos
É ser igual aos tais...
Seres intelectuais.

Nova regra ortográfica

Em se tratando de substantivos compostos,

Plural é frequentemente um problema.

Afinal de contas uma palavra, hora ou outra, se sobressai.

Veja no caso das próprias PALAVRAS-CHAVE.

A primeira é sempre mais importante

Em relação à segunda.

Na verdade, a palavra PALAVRA

Parece ser, de fato, sempre o foco da discussão.

Acima até mesmo das relações interpessoais.

Pense então nas Pessoas Públicas.

Sempre usando memorandos

Para burocratizar sua falta de memória,

Aderindo às declarações

Para camuflar o que realmente prefeririam não declarar,

Destruindo árvores em massa para adquirir a fonte

Das solicitações que lhes poupam sorrisos e BONS – DIAS.

Mas e se tudo pudesse ser revertido por um hífen?

Em PESSOAS-PÚBLICAS nada, nem ninguém,

Poderia se sobrepor.

Se papel não pesasse mais que poesia,

Se a regra não enterrasse a sinestesia,

Se toda esta conversa não fosse Utopia,

Tudo mais seria plural.

 Ainda penso que PESSOAS-PÚBLICAS

Seja a PALAVRA-CHAVE

Para entender o quanto é imprescindível

Respeitar singularidades.

Referências

A humanidade faz de si mesma

Uma transfiguração de suas referências.

Garanto que neste momento alguém,

Não importa quem, buscou as aspas.

Provavelmente frustrou-se a ler as linhas

                    SUPRACITADAS

E assim sucede a história através dos anos.

Quem pensa, pensa demais. Um dia se ilude.

Irá buscar em um apud (                                   )

 Aquilo que lhe foge à compreensão.

Alguém levanta a voz e argumenta:

- E para os não-letrados,

A regra se faz isenta?

Aproveito o ensejo e emendo:

- “Quem não sabe, inventa!”.

Esfrego na tua venta

O que afinal já se faz claro.

Nunca, em hipótese alguma,

Esqueça os clássicos:

1 – Tenha um filho:

durante o processo de educação

comece suas citações com:

“na minha época...” ou

“as crianças de hoje em dia...”.

Você certamente lembrará de Belchior.

2 – Plante uma árvore:

faça questão de carregar

em seu currículo tudo que foi

aprendido na teoria e, por

várias vezes, frustrante

quando posto em prática.

3 – Escreva um livro:

preferencialmente na terceira

pessoa do singular. Use e abuse

do narrador onisciente. É o mais

próximo que chegará da perfeição

[Grifo do autor].

Há vida além do lattes

Há aspas aos lotes.

Em tempos de seca...

Sejamos fontes!

Jonas Jandson

É à noite que se ganha o dia.

Asilo ao jovem que é idoso,

Tutora de um corpo ocioso,

Subterfúgio para vida sombria.

 Evasão torna-se quase real,

O nada parece fazer sentido,

 Bem como tudo que é proibido.

Clichê! Um filme, pipoca e sal.

Quem sabe à noite, um dia, alguém...

Quiçá, amigo, há muito além...

Deste silêncio que agora faz.

Ao dia, cansado, sereno, refém;

Dedico labuta, suor, desdém...

A noite merece Nobel da paz.

Jonas Jandson

A lucidez habita as figuras de linguagem

A: Doido? 

B: É...

A: Loucos é?

B: Não, sãos!

C: A vida não é uma redação!

Em um conflito entre sinônimos imperfeitos, regências verbais e predicativos dos sujeitos omitidos, uma ironia sempre vence.

Outubro e o segundo sol

Será somente acaso

Ou o oceano está no cio?

O mar, às vezes,

Engole o ocaso

Com água e sal,

Lá pras bandas do Sul.

E ao invés de sim,

Dirá: “não sei

Se há só um sol

Pra tanto céu”.

Qualquer Tomé,

Qu’inda não creia,

Na sina eterna

De um solstício.

A estrela seguirá

Em seu ofício,

E, como tudo que é sacro,

Terá início, vício e marco.

Parco, paco ou mero comício,

Quando luz fica difícil,

Vida clama vela e barco.

(Jonas Jandson)

Soneto de um Domingo à tarde

As córneas mal avistaram luz,

Uma dívida já se faz eterna.

Distante, porém latente: lanterna.

Conta que nem a velhice reduz.

Chaga aberta sem sangue nem pus.

Úlcera crônica, algoz, interna.

Mundo real é um mito (da caverna).

Limites que à vida não faz jus.

Para cada mão que se estendeu

Muitas pernas foram dilaceradas.

Nabucodonosor, Grande irmão...

Davi contra o povo filisteu,

Um filho que sacou suas espadas,

A massa contra Lei de Talião.